Lembro-me da ansiedade e curiosidade das horas que antecederam a primeira ecografia que fiz. Tinha apenas 7 semanas de gravidez. A médica pareceu-me um bocadinho fria quando disse que pouco ou nada se podia dizer além de que eu estava grávida de 7 semanas, que o "feto" (que palavra mais seca, quando ele já era o meu bebé) estava vivo e estava no lugar. Eu tinha ouvido falar de gravidezes que se desenvolvem fora do útero e que têm que ser interrompidas. Fiquei mais descansada, apesar de querer saber mais... Mas isso era ain da impossível...
Às 14 semanas foi quando fiquei a saber mais alguma coisa sobre esse ser maravilhoso que crescia dentro de mim. Tinha medo de olhar para o ecran, com receio de ver alguma coisa que me assustasse ou de ver a médica com cara de preocupação. Por seu turno, o meu marido ia perguntando e, a certa altura perguntou: "Está bem formadinho, doutora"... Ela sorriu e disse: "sim, parece..." Por dentro, uma emoção de alegria me inundou. O meu filho estava a desenvolver-se bem, de forma normal. O meu marido ia perguntando e ela ia dizendo "umas perninhas...uns bracinhos..."... "Mexe-se muito, não mexe, doutora?", perguntou o meu marido a certa altura e ela , simpática disse: "sim, mexe-se"... Curioso, o futuro pai ainda perguntou, já que ela tinha dito que tudo estava a correr bem, algo menos importante, mas que estava ansioso por saber "Ah... doutora... uma pergunta... O sexo... Quando é que dá para saber? Cuidadosa, ela respondeu "Isso só lá mais para a frente, depois das 16 semanas..." Mas lá foi continuando a ver e, de repente, de forma inesperada via-a arregalar os olhos e dar uma gargalahada em direcção ao ecran... Antes que perguntassemos alguma coisa, ela disse "É um rapaz!" contente, o meu marido disse "Sim? De certeza"... "É para confirmar às 20 semanas, mas quase de certeza que é um rapaz..."
Na volta para casa, vinhamos ambos muito eufóricos e emocionados. "Eu sabia! Eu sentia que era um menino" dizia o futuro pai, sonhando com o futuro... começamos a falar do nome... queríamos que tivesse o primeiro nome João, como o pai, mas com um segundo nome que desse para tratá-lo sempre pelos dois nomes, para de distinguir do pai "João Bruno? não... Hum... João Filipe? "A minha prima já tem um Filipe, vamos pensar em outro nome que calhe bem com João"...
Os tempos seguintes foram passados a escolher entre João Miguel e João Pedro, que acabou por ser aquele pelo qual nos decidimos... Eu sentia-me bem... Emocionada... Feliz... Ia ser mãe... A minha barriga ia crescendo... Não havia nada de mal, nem os "males" inofensivos, como os onjoos... A vida estava a ser tão boa para mim... Para nós...
A vida foi boa. A natureza foi justa. Tudo o que proveio dos factores naturais foi perfeito... Não nos passava pela cabeça que a mão humana da sociedade podre viesse algum dia desfazer o que a natureza tão generosamente tinha construido. Mas infelizmente, é isso o que o ser humano faz... Como já vi algum dia escrito em algum livro "O homem é o único ser vivo que cospe na água que bebe. O homem é o único que polui a água dos rios que fertilizam os rios que irrigam os campos. O homem é o único que destrói florestas... Por tudo isto, ele está se condenando à morte" Palavras que dão que pensar... Deus, ou a vida, ou a natureza, deu-me um filho lindo e saudável que a sociedade podre me roubou dos braços... O homem é, por isso, o ser mais desprezível deste mundo. E eram bons valores que eu queria ensinar ao meu filho, o valor dos sentimentos, o valor do amor, o respeito pela natureza e pelas coisas que ela nos dá... Infelizmente, não me deixaram... Em vez disso, terá uma educação banal, cheia de materialismo, futilidade, promiscuidade... Enfim... As coisas que a sociedade adora... A ignorância do ser humano que, como disse o autor daquelas palavras, está a condená-lo à morte...
AMO-TE MUITO FILHO. E O TEU FUTRO PREOCUPA-ME IMENSO.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
domingo, 14 de novembro de 2010
O dia em que soube que ele vinha a caminho...
Ainda me recordo como se fosse ontem. Era dia 9 de Outubro de 2002. Uma manhã com sol, mas com algumas nuvens brancas que, de vez em quando o tapavam um pouco. Eu tinha vestidas umas calças de ganga com uns apliques de lado, não muito apertadas, visto eu estar a preparar-me uma boa notícia mais dias menos dia, mais mês menos mês. Vestia também um blusão de ganga não muito forte, pois no início de Outubro ainda não faz muito frio.
Nesse dia fui com o meu marido a uma consulta de rotina no CAT (Centro de Atendimento a Toxicodependentes), onde o meu marido era seguido com sucesso, embora com algumas pequenas recaídas pelo meio, havia cerca de 5 anos. O médico disse estar muito satisfeito com ele e até brincou dizendo que estava provado que o casamento (2 anos antes) lhe tinha feito muito bem. Normalmente ele ia lá de 15 em 15 dias pedir medicação, pois também tinha um problema psiquiátrico, e conversar um pouco com o médico, que tinha muito orgulho nele. Tempos antes tinhamos falado com esse mesmo médico, Dr. António de Brito Camacho, da hipótese de ter um filho. Ele tinha ficado contente com esse nosso desejo. O meu marido tinha-lhe perguntado se poderia haver algum problema devido à medicação que tomava. Ele tinha rido e tinha-nos sossegado quanto a isso: eu não tomava qualquer medicação, por isso, a medicação que ele tomava não iria interferir em nada numa gravidez.
Nesse dia, eu estava ligeiramente desconfiada, mas não com muitas esperanças, pois tinha deixado a pílula havia apenas dois meses e sempre tinha ouvido dizer que levava algum tempo até o organismo se re-organizar. No entanto, tinha 1 semana de atraso. Mas mesmo assim, pensava que isso se devia à tal re-organização do organismo, pois não tinha qualquer sintoma. Sentia-me perfeitamente bem. Sempre tinha ouvido falar em enjoos, tonturas, desejos de comidas bizarras (como batatas fritas com chantilly ou morangos com maionese), sensações estranhas e nexplicáveis... Enfim...
Mesmo assim, no meio da conversa, perguntei-lhe se era possível uma pessoa estar grávida sem sintomas ele respondeu, sorrindo: "Em princípio, não. Mas não perdes nada em fazer um teste Se quiseres, eu chamo uma enfermeira, vais com ela ali à sala de análises e fazes um teste" - "E quando é que sei o resultado, doutor?" - "Agora, são cinco minutos e sabes logo". Então eu disse que sim, que ele podia chamar a enfermeira. Fiz o teste e ela pediu-me para aguardar no corredor. Durante esses minutos de espera, o meu marido ia-me acariciando as mãos e dizia "Era tão bom..." Eu sorria, ansiosa pelo momento em que a enfermeira me ia chamar. Quando ela me chamou, disse, com um sorriso "Está positivo". Uma alegria imensa inundou-nos. Abraçamo-nos a chorar de alegria. O meu marido dizia "Estou tão contente"... O Dr. Camacho falou do outro lado do corredor e perguntou: "Então? O João vai ser pai ou não?" A enfermeira disse: "Sim, vai..." Ele veio dar-nos os parabéns e perguntou-me, com toda a amabilidade: "Queres ser seguida aqui?" - "É possível, doutor?" - "Claro que é, temos uma excelente ginecologista e obstetra, a Dra. Amália Pacheco, só as ecografias é que não são feitas aqui, mas a Dra. Amália passa uma credencial, para as fazeres em Faro, com a Dra. Manuela Elói..." - "Mas eu não sou vossa utente... nunca fui toxicodependente" - "Não faz mal. Se eu digo que podes ser seguida aqui é porque podes."
Tivemos logo uma reunião com a enfermeira, que nos deu os primeiros conselhos: não fazer esforços, comer bem, etc..., mas também nos disse para não nos envolvermos demasiado, pois muitas gravidezes acabam em abortos espontâneos nas primeiras semanas. Pediu para estar atenta a alguma perda de sangue e ir logo ao hospital se isso acontecesse
Fiquei assustada e, quando cheguei a casa, telefonei para o SOS GRÁVIDA. A pessoa que me atendeu foi muito calorosa e tranqulizou-me: "Não se preocupe. A enfermeira só disse isso porque é da praxe alertarem-se os pais para isso, pois efectivamente há muitos abortos espontâneos nas primeiras semanas de gravidez, mas não quer dizer que vá acontecer consigo"
Depois disso, ia muitas vezes à casa de banho, não por necessidade, mas para verificar se tinha tido alguma perda de sangue. Felizmente nada disso aconteceu. Nem isso, nme enjoos ou outros sintomas. A gravidez correu normalmente, sem qualquer problema. A VIDA foi bondosa comigo. A VIDA não foi injusta... A Sociedade é que foi...
Nesse dia fui com o meu marido a uma consulta de rotina no CAT (Centro de Atendimento a Toxicodependentes), onde o meu marido era seguido com sucesso, embora com algumas pequenas recaídas pelo meio, havia cerca de 5 anos. O médico disse estar muito satisfeito com ele e até brincou dizendo que estava provado que o casamento (2 anos antes) lhe tinha feito muito bem. Normalmente ele ia lá de 15 em 15 dias pedir medicação, pois também tinha um problema psiquiátrico, e conversar um pouco com o médico, que tinha muito orgulho nele. Tempos antes tinhamos falado com esse mesmo médico, Dr. António de Brito Camacho, da hipótese de ter um filho. Ele tinha ficado contente com esse nosso desejo. O meu marido tinha-lhe perguntado se poderia haver algum problema devido à medicação que tomava. Ele tinha rido e tinha-nos sossegado quanto a isso: eu não tomava qualquer medicação, por isso, a medicação que ele tomava não iria interferir em nada numa gravidez.
Nesse dia, eu estava ligeiramente desconfiada, mas não com muitas esperanças, pois tinha deixado a pílula havia apenas dois meses e sempre tinha ouvido dizer que levava algum tempo até o organismo se re-organizar. No entanto, tinha 1 semana de atraso. Mas mesmo assim, pensava que isso se devia à tal re-organização do organismo, pois não tinha qualquer sintoma. Sentia-me perfeitamente bem. Sempre tinha ouvido falar em enjoos, tonturas, desejos de comidas bizarras (como batatas fritas com chantilly ou morangos com maionese), sensações estranhas e nexplicáveis... Enfim...
Mesmo assim, no meio da conversa, perguntei-lhe se era possível uma pessoa estar grávida sem sintomas ele respondeu, sorrindo: "Em princípio, não. Mas não perdes nada em fazer um teste Se quiseres, eu chamo uma enfermeira, vais com ela ali à sala de análises e fazes um teste" - "E quando é que sei o resultado, doutor?" - "Agora, são cinco minutos e sabes logo". Então eu disse que sim, que ele podia chamar a enfermeira. Fiz o teste e ela pediu-me para aguardar no corredor. Durante esses minutos de espera, o meu marido ia-me acariciando as mãos e dizia "Era tão bom..." Eu sorria, ansiosa pelo momento em que a enfermeira me ia chamar. Quando ela me chamou, disse, com um sorriso "Está positivo". Uma alegria imensa inundou-nos. Abraçamo-nos a chorar de alegria. O meu marido dizia "Estou tão contente"... O Dr. Camacho falou do outro lado do corredor e perguntou: "Então? O João vai ser pai ou não?" A enfermeira disse: "Sim, vai..." Ele veio dar-nos os parabéns e perguntou-me, com toda a amabilidade: "Queres ser seguida aqui?" - "É possível, doutor?" - "Claro que é, temos uma excelente ginecologista e obstetra, a Dra. Amália Pacheco, só as ecografias é que não são feitas aqui, mas a Dra. Amália passa uma credencial, para as fazeres em Faro, com a Dra. Manuela Elói..." - "Mas eu não sou vossa utente... nunca fui toxicodependente" - "Não faz mal. Se eu digo que podes ser seguida aqui é porque podes."
Tivemos logo uma reunião com a enfermeira, que nos deu os primeiros conselhos: não fazer esforços, comer bem, etc..., mas também nos disse para não nos envolvermos demasiado, pois muitas gravidezes acabam em abortos espontâneos nas primeiras semanas. Pediu para estar atenta a alguma perda de sangue e ir logo ao hospital se isso acontecesse
Fiquei assustada e, quando cheguei a casa, telefonei para o SOS GRÁVIDA. A pessoa que me atendeu foi muito calorosa e tranqulizou-me: "Não se preocupe. A enfermeira só disse isso porque é da praxe alertarem-se os pais para isso, pois efectivamente há muitos abortos espontâneos nas primeiras semanas de gravidez, mas não quer dizer que vá acontecer consigo"
Depois disso, ia muitas vezes à casa de banho, não por necessidade, mas para verificar se tinha tido alguma perda de sangue. Felizmente nada disso aconteceu. Nem isso, nme enjoos ou outros sintomas. A gravidez correu normalmente, sem qualquer problema. A VIDA foi bondosa comigo. A VIDA não foi injusta... A Sociedade é que foi...
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